Nos últimos dias, um vídeo viralizou nas redes sociais ao demonstrar uma possível nova modalidade de golpe praticada por entregadores de aplicativos de delivery no Brasil. Um colaborador, prestando serviços para uma plataforma não-identificada, filmou o número e detalhes do cartão de crédito de uma cliente no momento em que esta realizava o pagamento por sua encomenda. O caso teria ocorrido em São Paulo (SP) e o clipe vazado teria se originado do próprio celular do criminoso.
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No vídeo, o motoboy apoia seu celular com a câmera ligada em cima de sua maleta, se apossa do cartão da vítima e faz movimentos calculados para gravar não apenas o número, mas também a data de validade do documento e o código de verificação (conhecido popularmente como CVV). Para que a cliente não desconfiasse da manobra, o meliante conversou com ela durante todo o golpe, afirmando estar esperando receber sinal de internet em sua maquininha para realizar a cobrança.
“Vou pegar o sinalzinho da máquina, tá? Quando tem muito pedido na rua, elas (máquinas) ficam doidinhas”, afirma. Após garantir que os dados foram filmados, o entregador ainda se oferece para iluminar o teclado da máquina com o flash de seu celular para a consumidora poder digitar a sua senha — novamente, registrando esse código pessoal. De acordo com a Band, que teria identificado a vítima, ela só foi descobrir que havia caído em uma armadilha três dias depois, quando seu filho identificou três compras que totalizavam R$ 133.
Após se dirigirem ao restaurante, a polícia foi acionada e o entregador foi preso.
Cuidados com novas fraudes
Não temos dados concretos a respeito dessa nova modalidade de golpe — ainda assim, ela parece estar se popularizando rapidamente. Marcelo Salomão, superintendente da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor do Mato Grosso do Sul (Procon/MS), emitiu um alerta a respeito do tema, reforçando que fraudes com apps de delivery aumentaram em 149% durante a pandemia — afinal, esse tipo de plataforma passou a ser bastante requisitada por conta do isolamento social.
“Hoje eu venho aqui fazer um alerta. Alguns entregadores de aplicativos estão filmando seu cartão com a desculpa de que é para clarear, em virtude da luz do celular dele. Ele está gravando seu código de segurança, o número do seu cartão e quando você for digitar a senha, com a desculpa de iluminar, eles na verdade estão filmando você digitar sua senha. Muito cuidado. Fica o alerta para não cair nesse golpe. Essa é uma prática comum que está acontecendo”, afirmou Marcelo.
Vale ressaltar aqui algumas dicas de segurança para evitar ter o cartão clonado. Primeiramente, recuse efetuar pagamentos em maquininhas com a tela danificada, o que não lhe permitiria conferir o valor que será cobrado. Além disso, sempre que possível, pague usando o recurso contactless (por aproximação, via NFC), usando seu próprio dedo para cobrir o número do cartão. Ao digitar sua senha, prefira ficar com a maquininha em mãos ou posicioná-la de forma que o entregador não veja os números digitados.
O que as plataformas têm a dizer?
A The Hack entrou em contato com a assessoria de imprensa do iFood no Brasil para obter um posicionamento a respeito do caso. Confira abaixo a nota emitida pela companhia.
O iFood repudia desvios de conduta de qualquer usuário cadastrado no aplicativo, sejam consumidores, estabelecimentos parceiros ou entregadores independentes.
Para se cadastrar na plataforma como entregador, os(as) interessados(as) devem incluir os dados e documentos solicitados, que variam de acordo com o modal de entrega escolhido: moto, bike ou carro. Em seguida, os dados e os documentos são verificados, o que inclui reconhecimento facial. Essa validação facial também é solicitada de forma periódica, para garantir que o entregador é ele mesmo e evitar o aluguel e empréstimo da conta.
Para evitar que os consumidores caiam em golpes, a empresa tem reforçado sua comunicação em diferentes canais, como nas redes sociais, e no próprio aplicativo, com orientações para não aceitarem cobrança de valores adicionais na entrega, além de confirmarem o pagamento via plataforma.
O iFood também destaca que, quando o consumidor opta pelo pagamento online, jamais é exigido - nem por telefone, mensagem ou pessoalmente - um pagamento adicional na hora de receber o pedido. A orientação é ele se recusar a fazer qualquer tipo de pagamento e acionar, imediatamente, o chat do iFood para reportar a atividade suspeita.
No caso de qualquer ocorrência, é importante que o consumidor faça um boletim de ocorrência e sempre acione a empresa pelos canais oficiais de atendimento, encaminhando os documentos pertinentes.
Se for constatada a fraude por parte de um entregador cadastrado no aplicativo do iFood, a empresa ressarce o cliente, desativa o entregador de acordo com os termos e condições da plataforma e se coloca à disposição das autoridades policiais para contribuir com informações que elucidem o caso.
O iFood ainda reforça que mantém um time dedicado à investigação e prevenção a fraudes, visando minimizar e combater, da maneira que lhe cabe, esse tipo de golpe de forma preventiva. As denúncias recebidas contribuem para o trabalho de prevenção, que envolve o uso de dados para prever esse tipo de comportamento criminoso e promover ações para evitá-lo sempre que possível. Sempre que pertinente, o iFood encaminha as denúncias para apuração pelas autoridades competentes.
Não conseguimos, até o momento, estabelecer contato com as assessorias das demais plataformas de delivery disponíveis no país.
Fonte: BBC, Band, Correio do Estado