Read, hack, repeat

Você já leu os termos de uso do FaceApp? Pois deveria

Ramon de Souza

Se você é um internauta “normal” e utiliza redes sociais com uma frequência mínima, certamente viu, ao longo da última semana, a sua linha do tempo sendo invadida por montagens que mostram como seus amigos ficarão daqui a alguns anos.

Esse filtro “envelhecedor” é um recurso do FaceApp, aplicativo russo que, embora tenha sido lançado lá em 2017, viralizou nos últimos dias após ser utilizado por algumas celebridades para brincar na web. Ok, não vamos negar: o software é, de fato, bem divertido.

O que muitas pessoas nem sequer pararam para pensar é sobre a segurança do programa em questão. Em seus termos de uso, o FaceApp afirma que, ao utilizá-lo, seus usuários automaticamente estão cedendo uma licença perpétua, irrevogável e royalty-free do “conteúdo do utilizador” (ou seja, seu rosto), para fazer o que bem desejar com ele.

Incrédulo? Ok, leia o trecho na íntegra.

“Você concede ao FaceApp uma licença sublicenciada, perpétua, irrevogável, não-exclusiva, isenta de royalties, global, totalmente paga e transferível para usar, reproduzir, modificar, adaptar, publicar, traduzir, criar trabalhos derivados, distribuir, executar publicamente e exibir seu Conteúdo do Usuário e qualquer nome, nome de usuário ou imagem fornecidos em conexão com o seu Conteúdo do Usuário em todos os formatos e canais de mídia agora conhecidos ou desenvolvidos posteriormente, sem compensação para você.

Quando você publica ou compartilha o Conteúdo do Usuário em ou através de nossos Serviços, você entende que o seu Conteúdo do Usuário e quaisquer informações associadas (como seu [nome de usuário], localização ou foto de perfil) estarão visíveis para o público.”

(Reprodução: Your EDM)

O que isso significa?

Isso significa que, em tese, o FaceApp pode usar a foto do seu rosto para qualquer finalidade que lhe interessar e por tempo indeterminado. Atualmente, o software já conta com mais de 150 milhões de usuário — ou seja, estamos falando de um banco de dados com 150 milhões de rostos, que pode ser usado para programas de reconhecimento facial ou para treinar algum algoritmo obscuro de machine learning. Nunca se sabe.

O que mais está preocupando é a parte “irrevogável” da coisa toda, visto que isso iria até mesmo contra as regulamentações de proteção de dados (GDPR e LGPD) ao proibir o internauta de solicitar a remoção de uma informação pessoalmente identificável.

Os termos de uso abusivos do FaceApp já estão sendo discutidos até mesmo no Congresso dos EUA. Na quarta-feira (17), o senador Chuck Schumer alertou sobre o fato do app ser de origem russa e ter sido usado por “milhões de americanos”. Para Schumer, o FBI e a FTC precisam “examinar os riscos de segurança e privacidade nacional” envolvidos no software.

No Brasil, o Procon notificou o app com o objetivo de intimá-lo a esclarecer suas políticas de coleta, armazenamento e uso dos dados dos consumidores. “Informações divulgadas na imprensa afirmam que a licença para uso do aplicativo contém cláusula que autoriza a empresa a coletar e compartilhar imagens e dados do consumidor, sem explicar de que forma, por quanto tempo e como serão usados. E ainda, essas permissões não estão disponíveis em língua portuguesa”, explicou o órgão.

Ao site TechCrunch, a Wireless Lab, desenvolvedora do FaceApp, afirmou que as fotos usadas no aplicativo são enviadas para um servidor na nuvem apenas para fins de processamento e costumam ser deletadas dentro de 48 horas. Ainda assim, vale a pena a reflexão: nós realmente queremos conceder permanentemente os direitos de nossa imagem apenas para descobrir como será nossa aparência daqui a alguns anos?


Fonte: Naked Security, Avast, Forbes, Agência Brasil

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