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Você sabia? Steve Jobs quase licenciou o macOS para a Dell

Ramon de Souza

Embora seja relativamente fácil instalar o sistema operacional em um computador de qualquer outra marca, um dos trunfos do macOS é justamente ser um software proprietário e moldado especificamente para hardwares da própria Apple. Porém, esse cenário poderia ser completamente diferente caso Michael Dell, fundador da Dell, tivesse aceitado uma oferta um tanto ousada de Steve Jobs em 1997. A revelação veio na obra autobiográfica do empreendedor, “Play Nice But Win”, que foi lançada esta semana nas livrarias.

Segundo Dell, sua fascinação pela Maçã veio aos 14 anos, quando ele ganhou um Apple II de seus pais, e resolveu abri-lo para entender como o dispositivo funcionava. “Eu queria entender tudo sobre como essa máquina funcionava. A melhor coisa sobre o Apple II naquela época era que cada um dos chips estava claramente marcado e você podia entender exatamente o que era. Existiam livros que você podia obter que descreviam como cada chip funcionava… Eu devorei tudo”, afirma o executivo, hoje com 56 anos.

No ano seguinte, Dell se encontrou pessoalmente com Steve em um grupo de usuários de computadores de Houston, no estado do Texas. “Jobs pessoalmente era ainda mais atraente do que na imprensa. Quando ele entrou na sala de nossa reunião, foi como se as águas se abrissem. Ele falou com paixão sobre como o computador pessoal — seu computador pessoal — estava revolucionando o mundo. Ele estava dizendo que com seus computadores pessoais as pessoas teriam a capacidade de realizar o inimaginável”, diz.

O jovem Michael Dell (Reprodução/Suno)

Uma amizade surgiu entre os dois pioneiros da computação pessoal, a despeito das tentativas da mídia de colocar a Dell e a Apple como companhias rivais. Em 1993, após ser demitido da Apple e ter criado a NeXT, Jobs voava de São Francisco até o Texas constantemente para tentar convencer Michael de usar o NEXTSTEP, sistema operacional gráfico proprietário de sua nova empresa, nos modelos da Dell. A recusa era constante, pois não havia interesse público no SO e tampouco aplicações para tal.

Um "não" que mudou tudo

O momento crítico veio em 1997, quando a Apple, quase falindo, comprou a NeXT por US$ 429 milhões e recolocou Jobs no cargo de CEO. O executivo não teve dúvidas: após criar o macOS com base no NEXTSTEP, Steve desenvolveu uma versão do sistema que funcionava nos chips Intel x86 e fez uma oferta de licenciamento para Michael. A Dell até se interessou pela ideia e estava disposta a pagar uma taxa para a Maçã cada vez que um computador com o SO fosse vendido. A proposta de Jobs, porém, era mais ousada.

Steve queria que a Dell vendesse todos os seus computadores com macOS e Windows, dando ao usuário final a escolha sobre qual sistema ele utilizaria. Dessa forma, Michael teria que pagar uma taxa à Apple por cada unidade vendida de seus computadores, que já eram bem mais baratos do que outras máquinas da época. Os termos foram escritos justamente para garantir que a Dell não acabasse canibalizando a própria linha Mac que seria lançada em breve.

(Reprodução/Aroged)

“Os royalties dos quais ele estava falando chegariam a centenas de milhões de dólares, e a matemática simplesmente não batia, porque a maioria dos nossos clientes, especialmente clientes corporativos de grande porte, não queria o sistema operacional Mac. A proposta de Steve teria sido interessante se nós apenas disséssemos ‘OK, pagaremos a você cada vez que usarmos o macOS’ — mas pagá-lo por cada vez que não o usarmos… Bom, ótima tentativa, Steve!”, relembra Michael.

A negativa não abalou a amizade dos empreendedores — cada marca seguiu seu próprio rumo, enquanto Michael e Steve mantiveram contato. Algumas alfinetadas eventualmente surgiam aqui ou ali: certa vez, Dell se irritou com perguntas constantes de jornalistas sobre “o que ele faria caso fosse CEO da Apple” e brincou que fecharia a empresa. Mesmo sabendo o contexto da afirmação, Jobs usou o “ataque” em um discurso motivacional para sua equipe, afirmando que Michael era rude e só estava “com inveja”.

(Reprodução/Suno)

“É difícil imaginar hoje, com a morte de Steve e uma Apple extremamente bem-sucedida coexistindo pacificamente com uma Dell muito bem-sucedida; mas naquela época, dez anos antes do iPhone, a Apple realmente era um azarão, lutando por sua vida, assim como fizemos em vários conjunturas. Então, para Steve, naquele momento, não estávamos usando luvas. Ele precisava de um inimigo para reunir suas tropas, e nós éramos esse inimigo”, escreve Michael.


Fonte: CNET

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