O “investigador particular” John DeMarr, de 55 anos, foi acusado de organizar um esquema de investimento fraudulento e enganar pessoas a investirem em sua criptomoeda falsa, além de contratar o ator Steven Seagal para promover a “empresa”, como embaixador da marca.
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DeMarr é acusado de coletar US$ 11,4 milhões de vítimas do seu esquema estelionatário que operou durante 2017 e 2018. Para enganar investidores, DeMarr criou duas operações falsas. A Start Options, uma plataforma de investimento em criptomoedas, além da criptomoeda Bitcoiin 2 Gen (B2G), onde ele descreve como a “segunda geração do Bitcoin [...] Mais superior e mais avançada que a versão original do Bitcoin”.
O site profissional de DeMarr, assim como o site da B2G estão desligados. Mas o site de press releases da B2G e as redes sociais do acusado e das empresas estão online. No site, DeMarr descreve a criptomoeda como uma alternativa autossustentável ao original Bitcoin, pois oferece um ecossistema de mineração e investimento próprio.
“A Bitcoiin 2Gen é a moeda completa [...] Fornece no lançamento seu próprio ecossistema, sua própria carteira, suas próprias máquinas de mineração e a capacidade de trocar a moeda por moedas alternativas populares ou moedas FIAT. O Bitcoiin 2 Gen usa o blockchain Ethereum, que é um blockchain mais seguro e rápido do que o blockchain do Bitcoin”, diz.
B2G is proud to announce worldwide use of B2G for the B2G community! B2G is currently in the integration process and will be accepted at all Serviced Apartments owned by the Worldwide Venice Group! Special offers will be available when you pay using B2G! Stay tuned!
— Bitcoiin2Gen (@bitcoiin2gen) April 11, 2019
Kristi Koons Johnson, agente especial do FBI, conta que o esquema foi construído de forma minuciosa para passar credibilidade. “DeMarr criou um esquema de criptomoeda elaborado, completo com endossos de alto perfil e retornos incrivelmente grandes que provaram ser uma miragem que custou milhões aos investidores. Ele está agora sob custódia e não gasta mais o dinheiro de suas vítimas, nem se esconde da justiça fingindo seu próprio desaparecimento”, diz a agente em nota do Departamento de Justiça dos EUA (DOJ).
DeMerr oferece serviços de entrega de intimações, além de investigação particular. Nos casos de entrega de intimações, ele filma as pessoas e posta os vídeos em suas redes sociais. “You have been served”, diz em todos os vídeos.
Steven Seagal
Como a agente especial do FBI, Kristi Johnson, explica, o esquema criminoso de DeMarr foi construído com atenção em todos os detalhes, para passar maior confiança possível. O acusado realizou um trabalho de marketing e comunicação elaborado e até contratou o ator de Hollywood, Steven Seagal, para promover a fraude.
Ao pesquisar “Bitcoiin2Gen” é possível encontrar diversos veículos de mídia tradicionais (Wall Street Journal, CNBC, Telegraph, Cointelegraph e muitos outros) divulgando o esquema, principalmente divulgando que o ator, Steven Seagal, se tornou o embaixador da marca. A B2G ainda está listada nos sites de cotação de criptomoedas, mas com valores quase que zerados desde agosto de 2019. Mas em fevereiro de 2019, a unidade da criptomoeda chegou a custar US$ 0.70.
Steven Seagal, foi acusado por promover uma oferta inicial de criptomoeda (ICO) em 2018, além de não divulgar que recebeu pagamentos por promover um esquema de investimento em criptomoedas fraudulento.
De acordo com a Comissão de valores e câmbio dos EUA, Seagal teria recebido US$ 250 mil em dinheiro e mais o equivalente a US$ 750 mil em unidades da B2G, em troca de divulgação e promoção da marca, além da divulgação de um press release com o título “Mestre zen, Steven Seagal, se torna embaixador da Bitcoiin2Gen”.
A comissão informa que o ator hollywoodiano violou as leis federais de propaganda e concordou em pagar US$ 157 mil como multa, além de estar proibido de divulgar esquemas do tipo, por três anos.
A saga da B2G
De acordo com o DOJ, DeMerr começou suas operações estelionatárias em dezembro de 2017, oferecendo contratos de investimento para interessados no mundo todo, por meio do site Start Options. As vítimas depositaram valores em Bitcoin, Dólar norte-americano e Euros, com a promessa de receber lucros generosos (de até "8000%") depois de cerca de um ano.
“Na verdade, o dinheiro nunca foi investido e, em vez disso, foi desviado para contas controladas por DeMarr e outros e usado em várias expedições pessoais, incluindo a compra de um Porsche, joias e reformas na casa de DeMarr na Califórnia”, escreve o DOJ.
Os investidores perceberam a fraude no final de janeiro de 2018, quando não receberam nenhum dinheiro e foram atrás de DeMarr, mas não o encontraram. O acusado desapareceu, mas logo comunicou os investidores de que tinha sido sequestrado e agredido e que não poderia devolver o dinheiro. Ele ainda pediu que parassem de procurar a sua família.
“DeMarr instruiu outros a divulgarem declarações afirmando que ele havia sido sequestrado e desaparecido em Montenegro, dizendo aos investidores do B2G para pararem de tentar entrar em contato com DeMarr ou sua família em relação à impossibilidade de devolver o dinheiro investido no B2G. Na verdade, porém, DeMarr não desapareceu em Montenegro e, em vez disso, acreditava-se que residia na Califórnia”, diz o DOJ.
De acordo com o DOJ, DeMarr compareceu a uma audiência com o juiz John D, Early, da Califórnia na segunda-feira (01). O juiz encaminhou o caso para o Tribunal de Justiça do Distrito Leste de Nova York. DeMerr se diz inocente até que se prove o contrário. O FBI e o DOJ continuam investigando o caso.
Fontes: Departamento de Justiça dos EUA; Press Release Bitcoiin2Gen; Bitcoiin.com (Internet Archive) ; The Telegraph; Comissão de Valores e Câmbio dos EUA.