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Figura-chave por trás da teoria QAnon é um analista de segurança da informação

Ramon de Souza

Pasme: um dos principais figurões por trás da disseminação do movimento conspiracionista QAnon é um especialista em segurança da informação — e um dos bons. Jason Gelinas, que foi identificado como o responsável pelo site Qmap.pub, já trabalhou como analista para grandes empresas do ramo financeiro, incluindo a Citigroup (dona da Citibank) e a Credit Suisse. Desde a descoberta, o portal foi retirado do ar.

O Qmap.pub era uma das principais fontes de conteúdo da QAnon, teoria da conspiração de extrema direita que tem causado certo rebuliço nos Estados Unidos. Ele publicava, sobretudo, mensagens de Q, o anônimo responsável por criar a teoria. O papel de Gelinas enquanto desenvolvedor e administrador da página foi descoberto pelo coletivo de fact checking Logically.

“Eu não vou comentar nada sobre isso. Eu não vou me envolver. Eu quero ficar longe disso”, afirmou Gelinas ao Bloomberg, em uma de suas poucas aparições públicas após a revelação. Na ocasião, o executivo — que reside em Nova Jérsei — defendeu o QAnon, categorizando-o como “um movimento patriótico para salvar o país”. Desde então, Gelinas apagou todas as suas redes sociais, incluindo o LinkedIn com seu histórico respeitável.

O analista atuava online sob a alcunha de QAppAnon, mantendo um perfil no Patreon e recebendo pelo menos US$ 3 mil em doações mensalmente. Ele prometia lançar em breve a Armor of God, uma rede social privada para seguidores da teoria; sua descrição oficial defendia que a plataforma era “projetada para patriotas do mundo inteiro criarem e compartilharem conteúdos, incluindo orações, notícias, memes e postagens”.

Ok, what’s the deal?

A menos que você não esteja acompanhando muito o que rola na cena política dos EUA, você com certeza já ouviu falar sobre o QAnon. O movimento conspiracionista surgiu em imageboards e ganhou força até mesmo no mundo offline, com protestos e passeatas de seus membros mais fervorosos.

Reprodução: Logically

Resumidamente, a teoria sustenta um cenário em que forças políticas de esquerda — incluindo membros do Partido Democrata como Hillary Clinton e Barack Obama — estariam controlando secretamente o governo dos EUA, operando redes de pedofilia e satanismo. Donald Trump, por sua vez, estaria travando uma guerra secreta contra tais forças malignas, motivo pelo qual ele teria se candidato à presidência em 2016.

Não é preciso entender muito de política para compreender o perigo por trás da teoria QAnon: ela tem um grande poder para influenciar nas eleições presidenciais de 2020, embora isso esteja sendo feito com base na disseminação de desinformação. O movimento espalha tanta fake news e tanto discurso de ódio que tanto o Facebook quanto o Twitter já limitaram drasticamente o seu alcance nas redes sociais.

A descoberta de que Gelinas tinha tal grau de envolvimento na teoria é curiosa, pois demonstra que o movimento, de fato, possui profissionais altamente capacitados em seu meio; por conta de sua atuação, é bem provável que a segurança do Qmap.pub fosse de alto nível. Até o momento, a Citigroup e a Credit Suisse não se pronunciaram sobre o assunto, e o analista segue “desaparecido”.


Fonte: Bloomberg, Logically

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