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ProtonVPN acusa Apple de bloquear atualização, justamente quando Myanmar mais precisa de segurança e privacidade

Guilherme Petry

A Apple está sendo acusada pelo fundador da Proton Technologies, de priorizar o lucro ao invés de respeitar os direitos básicos da humanidade, principalmente quando estes direitos estão ameaçados. Como é o caso de Myanmar, um país na Ásia que, desde o começo deste ano, está sofrendo as consequências de uma violenta ditadura militar e de um governo autoritário.

Andy Yen, fundador da Proton, conta que a Apple bloqueou uma importante atualização de segurança e privacidade do ProtonVPN, por não gostar da descrição da ferramenta, que é a mesma há meses e nunca houve problemas.

"No mesmo dia em que a ONU recomendou aplicativos Proton, a Apple repentinamente rejeitou atualizações importantes para nosso aplicativo ProtonVPN para iOS. Essas atualizações incluem aprimoramentos de segurança projetados para melhorar ainda mais as proteções contra tentativas de controle de conta que podem comprometer a privacidade", escreve Yen, no blog do ProtonVPN.

Segundo a Apple, as atualizações foram bloqueadas, pois, a descrição das ferramentas na Apple App Store diz serem soluções para "desafiar governos ... e trazer liberdade online para pessoas ao redor do mundo". A questão de Yen é que essa descrição é a mesma há meses e não mudou por conta da atualização, mas a atualização foi bloqueada justamente neste momento delicado para Myanmar.

"Hoje, aplicativos como o ProtonVPN são uma 'tábua de salvação' para o resto do mundo para o povo de Myanmar que está sendo massacrado. Ao nos impedir de informar aos usuários que o ProtonVPN pode ser usado para contornar as restrições da Internet, a Apple está dificultando para as pessoas encontrarem essa 'tábua de salvação'. A decisão da Apple tornará ainda mais difícil para os cidadãos de Myanmar enviar provas de crimes contra a humanidade às Nações Unidas", escreve Yen.

Além disso, Yen também disse que a Apple é hipócrita, já que não tem problemas em desafiar governos quando isso faz parte do interesse financeiro da empresa. "Por exemplo, evitando impostos da União Europeia ou evitando acusações antitruste... A Apple estão dificultando ativamente a defesa dos direitos humanos em Myanmar, em um momento em que centenas de pessoas estão morrendo".

Em entrevista ao The Verge, Yen conta que removeu a descrição onde diz que o ProtonVPN pode ser usado para desafiar governos e a atualização foi finalmente aceita, no dia seguinte da sua reclamação pública. O The Verge entrou em contato com a Apple sobre o caso, mas não obteve resposta.

Soluções como as ferramentas da Proton, um e-mail com criptografia de ponta a ponta e que respeita a privacidade dos seus usuários, assim como uma Virtual Private Network (VPN), são indispensáveis para a população, ativistas e jornalistas que precisam trocar informações delicadas, sem que o governo (neste caso autoritário e assassino) veja.

Junto a pandemia da COVID-19, a população de Myanmar está enfrentando uma ditadura militar severa, com inúmeros mortos, torturados e desaparecidos diariamente, desde o começo deste ano. Além disso, as fornecedoras de rede e internet local foram obrigadas a trabalhar com os militares que assumiram o poder e agora estão controlando os meios de comunicação.

Reunião de notícias recentes sobre a situação de Myanmar, extraídas da aba "Notícias" do Google.
Reunião de notícias recentes sobre a situação de Myanmar, extraídas da aba "Notícias" do Google.

Fontes: ProtonVPN; The Verge.

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