Read, hack, repeat

O mercado de streaming matou a pirataria — mas agora vai revivê-la

Ramon de Souza

Os mais espertos já previam o que a Netflix faria com a internet assim que a plataforma de streaming foi lançada em 2007 — ela certamente sufocaria o colossal mercado de pirataria audiovisual.

Afinal, não é preciso pensar muito para concluir que vale muito mais a pena pagar um valor módico por mês para ter acesso a uma biblioteca crescente de títulos disponíveis imediatamente em alta qualidade do que ficar se preocupando em achar um bom rip daquele filme recém-lançado (e ainda ter que esperar algumas horas para baixá-lo, caso sua conexão não fosse das melhores).

O resultado foi óbvio: a taxa de uso do protocolo torrent para a troca de arquivos caiu rapidamente. Em 2003, ela representava 60% de todo o tráfego de dados da internet da América do Norte; em 2016, esse número já havia caído para 1,73%. Porém, até mesmo a mais genial das disrupções tecnológicas sempre acaba gerando novos problemas após resolver os velhos, e não poderia ser diferente com o mercado de streaming.

O mais novo relatório produzido pela Sandvine, empresa canadense que atua no segmento de infraestrutura para redes, aponta uma leve retomada na taxa de uso da ferramenta BitTorrent (um dos mais famosos clientes para o protocolo P2P) pela primeira vez em muitos anos. E a culpa, acredite, é do nascimento de inúmeros competidores da Netflix e sua estratégia baseada no desenvolvimento ou licenciamento de conteúdo exclusivo.

Um mercado em fragmentação

A Sandvine afirma que, embora a Netflix esteja representada em nada menos do que 15% de todo o tráfego de dados global, o compartilhamento de arquivos via torrent já responde por 3% do downstream e 22% do upstream a nível mundial. Desse montante, 97% correspondente ao uso do BitTorrent. A plataforma está voltando a se popularizar sobretudo na África, na Europa e no Oriente Médio.

Em uma postagem no blog da companhia, Cam Cullen, vice-presidente de marketing da Sandvine, culpou a alta competitividade dos serviços de streaming como o fator responsável por essa retomada da pirataria.

Mais fontes estão produzindo conteúdo ‘exclusivo’ disponibilizado em um único streaming ou serviço de broadcast — pense em Game of Thrones para a HBO, House of Cards para a Netflix, The Handmaid’s Tale para o Hulu ou Jack Ryan para a Amazon.

O executivo ainda adiciona que ter acesso a todos esses serviços “se torna muito caro para o consumidor, então ele assina um ou dois e pirateia o resto”. A linha de pensamento faz sentido, especialmente se levarmos em conta o fato de que as principais emissoras e produtoras já anunciaram planos de lançar suas próprias plataformas em um futuro breve. A NBCUniversal, tal como a BBC e a Discovery, entram nesse rol de futuros competidores; já a Disney+ chega ainda em 2019, arrebatando títulos da Marvel e da franquia Star Wars.

Resta saber se, com tanta fragmentação assim, quem vai acabar perdendo é o próprio consumidor.


Fonte: Sandvine (via Motherboard)

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