Read, hack, repeat

Estaria a China roubando pesquisas americanas sobre a COVID-19?

Ramon de Souza

Na semana passada, os Estados Unidos causaram polêmica na web ao anunciar, através de uma conferência de imprensa do Departamento Federal de Investigação (FBI), uma suposta campanha de espionagem contra o país levada por dois agentes de elite da China. Li Xiaoyu, de 34, e Dong Jiazhi, de 33, foram acusados abertamente de roubar propriedades intelectuais e pesquisas sigilosas relacionadas com a COVID-19.

“A China está utilizando de roubo cibernético como parte de sua campanha global para ‘roubar, replicar e substituir’ companhias não-chinesas no mercado global”, afirmou o advogado John Demers. “A China agora se posicionou, junto com a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte, no vergonhoso clube de nações que provêm um paraíso seguro para criminosos cibernéticos desde que eles estejam dispostos a trabalhar em benefício do estado”, complementa.

De acordo com o FBI, Xiaoyu e Jiazhi atuam tanto para benefício próprio quanto para atender aos interesses do Ministério de Segurança do Estado da China. Neste ponto, a dupla teria se empenhado, ao longo dos últimos dez anos, em invadir computadores de indústrias cujos segredos corporativos são de interesse para o programa “Made in China 2025”, que tem como objetivo equilibrar a manufatura do país até o ano em questão.

(Reprodução: China Link Trading)

Dentre os alvos dos hackers, estão fabricantes de tecnologias de ponta, o setor farmacêutico, defesa nacional, dispositivos médicos, energia renovável e — mais recentemente — pesquisas dedicadas a encontrar formas de erradicar a doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV2). Outros países afetados pela campanha incluiriam Alemanha, Japão, Espanha, Reino Unido e Austrália.

Game of Corona

Relatórios divulgados pela agência norte-americana revelam o modus operandi da dupla asiática. Segundo o FBI, os agentes costumam explorar vulnerabilidades em servidores web, aplicativos de colaboração profissional e suítes de desenvolvimento, tal como ambientes na nuvem com baixo nível de proteção. Em alguns casos, eles também empregavam malwares customizados para roubar credenciais de colaboradores.

É pouco provável que os indivíduos cheguem a enfrentar a justiça estadunidense, visto que ambos moram na China e não podem sofrer extradição. As autoridades dos EUA, porém, ressaltam que os dois poderiam ser indiciados por 11 crimes diferentes, incluindo fraude computadorizada e roubo de segredos industriais. “O caso demonstra a dedicação do FBI em perseguir os criminosos não importando de onde eles estão realizando suas atividades”, comenta Raymond Duda, agente da divisão de Seattle.

Vale lembrar que a China não foi o único país a sofrer acusações do gênero. Neste mesmo mês de julho, a Rússia foi acusada de empregar um grupo de agentes de elite para roubar informações de pesquisas britânicas para o desenvolvimento de uma vacina contra a COVID-19. Os trabalhos estavam sendo conduzidos pela Universidade de Oxford em conjunto com o Colégio Imperial de Londres.

(Reprodução: The Telegraph)

O mais engraçado é que tal informação foi divulgada horas depois que os russos anunciaram planos para produzir 200 milhões de doses de uma vacina experimental. Andrei Kelin, embaixador da Rússia para o Reino Unido, porém, negou as acusações e descreveu o indiciamento como “sem sentido”.

Não é de se espantar que as grandes potências mundiais tenham interesse em transformar a corrida pela erradicação do novo coronavírus em uma nova “guerra fria” para promover suas próprias capacidades e demonstrar superioridade tecnológica — trata-se, porém, de um jogo perigoso em que a parte mais afetada é a própria população.


Fonte: Dark Reading, Avast, The Guardian, BBC

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